Pelo Que é Que eu Pago Quando Compro um Fato de Dança Oriental?

Por Catarina Fevereiro

A pergunta mais fácil de se fazer para se explicar o preço dos figurinos de Dança Oriental de designer é: pelo que é que eu pago quando estou a comprar um fato de Dança Oriental? A partir desta pergunta consigo enumerar vários tópicos que te levarão a perceber o porquê dos preços dos fatos feitos por designers.

Na maioria das vezes quando compras um fato, o preço vem discriminado em dois parâmetros: material e mão de obra, pois são aqueles que, de uma forma simples e direta, enumeram todos os serviços pelo que pagas.

  1. Primeiro falo-vos do mais visível, o Material

É importante saber que quando pagas o material estás a pagar por um material que a designer já teve a oportunidade de testar e estudar para ter a certeza que é o mais correto para o teu fato. O material de um fato normalmente (a não ser se peças algo fora do convencional) é o tecido, as aplicações e os aviamentos.

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2. Tecido

Existem vários tipos de tecidos que utilizamos na confeção dos fatos, desde licra, malha, chifon, mousseline, cetim, lantejoula, renda, veludo, seda... o céu é o limite. Mas há um fator comum a todos, a sua qualidade. O que muitas das vezes distingue o preço de um fato é a qualidade do tecido que é utilizado. Como se costuma dizer “Quando o tecido é bom, o trabalho é pouco”, porque a qualidade do tecido fala por si, e só por o tecido ter um bom brilho, um bom cair, um bom toque, vai fazer uma grande diferença entre um fato de Dança Oriental profissional ou amador. 

3. Aplicações

Uma das coisas que mais brilha em palco e mais requisitadas por essa razão são as aplicações. As aplicações podem ser somente pedraria direta no fato, ou pedraria sobre uma superfície (como renda ou feltro) que depois é aplicada no fato.

Assim como tudo, o preço varia entre pedraria de boa qualidade ou de má qualidade. Se comprares um fato e pedires cristais da marca Swarovski ou Preciosa (por exemplo) irás ter muito mais brilho em palco, mas é claro que irá encarecer (e bem mais!) o teu fato. Para teres uma ideia coloco o mesmo produto em cima da mesa: pensa numa carteira de 288 cristais hotfix (com cola por trás para se aplicar com uma caneta que derreta a cola), em que cada cristal tem 6.5 mm de diâmetro (tamanho técnico SS30). Esta carteira marca Swarovski custa 56,80€, marca Preciosa custa 38,90€, e na ‘loja do chinês’ custa 5€! 

4. Aviamentos

O que são os aviamentos? Muitas vezes é o material que “menos vês” no fato, como elásticos, linhas, base do top, fechos para o top. E aqueles que não vês de todo mas que também são utilizados para fazer o teu fato como os materiais básicos de costura, agulhas, alfinetes, fita métrica, máquina de costura, tesoura, etc...

5. Em seguida falo do que não vês, mas sem isso não terias fato algum, a Mão de Obra.

Quando pagas a mão de obra estás a pagar não só o trabalho de costurar o fato: estás a pagar muitos outros serviços também que à primeira não te parecem relacionados com o fato mas que tudo têm a ver. Este é provavelmente o parâmetro pelo que pagas que mais dignifica o trabalho da designer e mais distingue uma designer profissional de um designer amadora.

Aplicação de cola num top de um fato Baladi.

Aplicação de cola num top de um fato Baladi.

6. Produção

A produção do fato é todo o trabalho envolto na confeção deste, tão simples como: criar, cortar, alinhavar e coser. Claro que engloba muitos mais processos mas estes são os básicos para se conseguir confecionar uma peça de vestuário. Muitas designers podem ajustar o preço do fato ao teu orçamento neste tópico, através do trabalho feito nas aplicações. O preço do fato varia (e muito!) perante a forma como são trabalhadas as suas aplicações. A designer pode colar os teus brilhantes (os mais pequenos de todos não há volta a dar, serão sempre colados pois não há outra forma) ou coser. A diferença está aqui pois os brilhantes colados dão muito menos trabalho de se aplicar, mas também não duram tanto e podem sair facilmente, ao contrário dos cosidos que duram mais tempo no fato mas exigem muito mais trabalho na sua aplicação.

7. Formação & Experiência

Para a designer conseguir fazer o teu fato teve de despender dinheiro e tempo a aprender como o fazer através de formações/cursos de costura, de moda, de desenho, entre outros. Teve de experimentar materiais, testar técnicas, corrigir erros. Teve de aprender a observar os vários tipos de corpos e perceber como trazer ao de cima o mais bonito de cada um. E teve de trabalhar a sua capacidade criativa, para conseguir visualizar a tua ideia e conseguir aconselhar-te e mostrar-te o que ela acha que é melhor para ti.

Fato da marca Fevereiro, vestido pela própria no festival Oriental Dance Weekend 2019.

8. Personalização & Individualidade

Quando encomendas um fato a uma designer estás a pagar o fator de ser um fato ao teu gosto, ao teu corpo e exclusivo. O que é mais que especial pois não terás mais ninguém em palco com um fato igual ao teu (a não ser que seja uma encomenda de grupo, ou outra costureira tenha copiado o teu modelo a 100%...). 

9. Provas

Uma boa profissional deve fazer sempre, pelo menos uma prova, para retificar que o fato te ficou a assentar que nem uma luva! Se está tudo impecável logo na primeira prova acredita que ficamos felizes como se ganhássemos a lotaria! O normal é depois da primeira prova haver algumas retificações a fazer como a bainha, apertar/alargar elásticos, colocar ou tirar enchimento do peito, ou adicionar algo que não tenhas pedido antes mas até gostavas que o fato tivesse! Mas há que ter atenção e confiar na designer, existe um limite de provas a serem feitas e alterações a serem pedidas. Há que se ter consideração pela pobre designer que já colocou tanta dedicação no fato. Na minha pequena marca “Fevereiro” incluo no preço final duas provas e as correções a serem feitas. Após isto se as provas são por desleixo da cliente ou alterações que não estavam no pedido original, aí já cobro pela prova e pela retificação.

Fato de Shaabi da marca Fevereiro, vestido por Catarina Branco na gala internacional do festival Dancing World, em 2019.

Fato de Shaabi da marca Fevereiro, vestido por Catarina Branco na gala internacional do festival Dancing World, em 2019.

10. Comunicação

Para saberes do trabalho da designer tiveste de a conhecer em algum lado, e muitas vezes onde o vês é através das redes sociais ou do site. Também através de festivais, onde existe não só a banca como a deslocação para o local do festival. Aliado a isto existe todo um trabalho gráfico e visual a nível de cartazes, cartões de visita, catálogos, sessões fotográficas. Tudo isto de modo a que o trabalho da designer chegue a ti da forma mais ágil e adaptada a ti.

11. Gestão

Contas, muitas contas! Sim, nós temos muito trabalho de contabilidade e finanças a fazer para termos a certeza que não há margem para erros, tanto para a cliente como para a designer.

Foi uma grande lista! Mas acredita que mesmo assim ainda não enumerei coisas como despesas de transporte, tempo ao telemóvel/mail a falar com fornecedores e a fazer encomendas! A verdade é que se fosse enumerar tudo aqui nunca mais acabavas de ler, e tenho a certeza que designers que estão há mais tempo no ramo do que eu ainda conseguiriam adicionar mais alguns tópicos que me escaparam!

Espero que esta explicação te consiga ajudar a perceber o porquê de os fatos de Dança do Ventre terem valores mais altos, e que aqueça os corações às nossas queridas designers que tanto fazem nos bastidores para que o teu talento seja acompanhado de um fato à altura!

A Catarina Fevereiro é bailarina de Dança Oriental e designer de moda e tem uma marca com o seu apelido, Fevereiro. Acompanha o seu trabalho como bailarina no seu canal de Youtube e segue o seu trabalho enquanto designer de moda no seu Instagram!

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