O Que é a Tatuagem Henna?

POR sekmeth ahmes

Henna Sessions com Sandra Piedade, aluna CBOS.

Henna Sessions com Sandra Piedade, aluna CBOS.

Ao longo dos tempos, as pinturas corporais têm sido utilizadas para diversos fins e embora a sua aplicação cosmética seja em grande parte uma das razões mais visíveis da sua utilização, os motivos que as fundamentam são na verdade muito mais profundos. Por todo o mundo - dos povos no norte da Europa, às tribos de África e das religiões pagãs aos próprios cristãos - várias civilizações têm usado as tatuagens de determinados símbolos para celebrações ritualísticas, sejam elas em rituais de passagem, cerimónias ou início de jornadas (como por exemplo partidas para longas viagens ou guerras). Os desenhos e símbolos utilizados variam de cultura para cultura, mas a matriz é sempre análoga: todos eles consistem em preces, para que os deuses lhes atribuam sabedoria, iluminação espiritual, saúde, fertilidade, proteção e boa sorte.

Usada pelas suas capacidades medicinais e cosméticas, mais do que uma arte decorativa, a Henna é uma forma de conexão espiritual, repleta de simbologia e mensagens que nos conferem um elo místico ao nosso corpo e às entidades superiores que nos regem. 

Mas antes de mergulharmos na história e perceber o papel da henna no quotidiano de quem a ostentava, comecemos pelo essencial, o que dá nome a uma das formas de arte corporal mais conhecidas do mundo. 

O que é a Henna? 

Uma das plantas mais conhecidas em todo o mundo antigo, a henna, como é vulgarmente conhecida, tem o nome científico de Lausonia inermis, mas pode ser reconhecida por muitos outros nomes, como L. Alba, L Spinosa ou L. Ruba.

O nome ancestral pelo qual é mais conhecida, henna ou hinna, é árabe e acredita-se que foi primeiramente usado por persas. No Egipto, esta planta teria o nome de Henu, Henou ou Ank-imy mas a sua expansão foi de tal ordem que existem referências à henna em aramaico, hebreu, chinês, grego e sânscrito. Só na Índia, existem nomes diferentes de região para região, como mehendi. Existem também alguns relatos de áreas em Marrocos onde a henna também se denomina de Beberiska.

Sara Seita Henna

Acredita-se que as suas origens tal como a conhecemos estejam no Antigo Egipto, mas vários historiadores discordam desta versão, alegando que poderiam existir várias plantas com estas características na altura. Esta planta adquiriu vários nomes através dos tempos, o que tornou muitas vezes quase impossível a sua localização histórica. Origens misteriosas à parte, o seu uso consegue ser comprovado regredindo no tempo até antes do séc. VII A.C, na Índia, Marrocos, Pérsia, Mesopotâmia. Sabe-se também que foi introduzida na Turquia pelos persas ainda quando a sua língua falada era o Farsi e que se espalhou mais tarde por todo o mundo oriental.

Utilização da Henna no mundo Antigo

Como já foi dito anteriormente, a henna não era apenas utilizada para fins decorativos. Assim sendo podemos definir 4 categorias em que a henna pode ser dividida: a Medicinal, Cosmética, a Esotérica e a Social. 

O seu uso medicinal está enraizado nas civilizações ancestrais e sabe-se que a utilizavam para quase tudo. O seu poder anti-fúngico, anti-bacteriano e ao mesmo tempo hidratante, faziam da henna ideal no tratamento de doenças de pele e infecções. Para isto usar-se-ia as folhas e raízes da planta, moídas e usadas em conjunto com um solvente que em geral seria água. Há também referências ao uso da Henna como analgésico.

O seu uso cosmético é bem mais conhecido nos dias de hoje, mas teve um papel importantíssimo nas culturas ancestrais na vida das mulheres, sendo usada para praticamente todos os rituais de beleza numa base diária. As mesmas propriedades hidratantes que levaram a henna a ser usada como planta medicinal, foram também causa do seu uso cosmético. As mulheres cobriam a sua pele de henna, para que esta ficasse mais suave ao toque e com uma fragrância floral, mas também a aplicavam no seu cabelo tonando os cabelos mais fortes e brilhantes. Devido às suas propriedades de pigmentação, era também utilizada para colorir unhas, muitas vezes lábios (na Índia, até as pálpebras) e como não poderia deixar de ser, adornar o corpo com as tatuagens temporárias que tornaram a henna uma referência no imaginário de todos os ocidentais. 

Noutra vertente, a henna possui uma componente simbólica e esotérica de conexão ao divino. A sua ligação ao Sagrado Feminino vai desde a aplicação mais mundana no papel da mulher na sociedade, até à sua integração em rituais por sacerdotisas. De entre várias místicas desenvolvidas em torno da henna, diz-se que a carga energética e a simbiose entre quem faz e quem recebe a henna, dita uma transformação no nosso estado de consciência e energia, direcionando-nos e orientando o nosso caminho num bom sentido, atraindo boas energias. 

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A henna tinha também um importante fator social. Os rituais de henna actuavam muitas vezes como oportunidade para as mulheres trocarem conhecimento e discutirem importantes assuntos entre si, sem qualquer interferência masculina. Em algumas culturas estes encontros de mulheres são vistos como sagrados e importantes não só para o cuidado do corpo, mas também para que se possa nutrir uma mente e alma sãs. Em Marrocos esta tradição ainda se mantém em alguns locais. 

A henna era também utilizada como diferenciador entre famílias ou tribos entre alguns povos, como as tribos Amazigh. Usando simbologia própria conseguiriam distinguir não só as várias tribos como os seus ancestrais, história familiar e posição hierárquica na tribo.

Simbologia 

Os símbolos usados são quase tao importantes como as zonas do corpo onde realizamos a henna. 

Geralmente, as mãos e os pés são sempre escolhas de eleição mas mesmo nas mãos temos significados diferentes. Poderemos fazer henna para agradecer, pedir ou proteger-nos de algo. Para esse efeito consideramos também as zonas onde faremos a henna:

As palmas: devem invocar sempre simbologias de oferenda ou abertura. É com as palmas que pedimos e agradecemos as bênçãos presentes na nossa vida.

Costas da mão: são escudos protectores, defendendo-nos.

Mão direita: representa o lado Masculino, projectamos. 

Mão esquerda: representa o Feminino, a via do coração, ao que estamos receptivos. 

Pés: são considerados pontos de contacto com o divino, o ponto de união entre o ser e a terra.

Depois haverá sempre a considerar os vários símbolos a integrar no design, para que a henna tenha os atributos necessários (felicidade, alegria, crescimento, lealdade, amor, prosperidade, entre outros).

Podes ver os trabalhos das Henna Sessions 2020 com a Catarina Branco (na imagem), a Vera Mahsati, Sara Naadirah e Yolanda Rebelo. Todas elas tinham hennas diferentes em conformidade com o sentimento que a sua dança emanava.

Podes ver os trabalhos das Henna Sessions 2020 com a Catarina Branco (na imagem), a Vera Mahsati, Sara Naadirah e Yolanda Rebelo. Todas elas tinham hennas diferentes em conformidade com o sentimento que a sua dança emanava.

Na Dança, as bailarinas de várias culturas têm hennas em todas estas zonas descritas em conformidade com a dança que fazem ou sentimento que pretendem exprimir. É comum em algumas culturas as palmas dos pés e das mãos estarem mesmo cobertas com uma mancha uniforme de henna. Trata-se de uma forma de enraizamento e ligação ao seu íntimo para que a expressão da dança seja mais profunda. Infelizmente é uma cultura que se tem vindo a perder, especialmente na Dança Oriental mais tradicional. 

Na tentativa de recuperar esta tradição e por ter a forte crença de que estes dois elementos, a henna e a Dança, devem estar unificadas e cada vez mais, tenho feito um esforço para mostrar trabalho de bailarinas e henna, sob forma de registo fotográfico. 

Nos dias que correm a henna continua a ser usada nas suas culturas de origem para fins que foi designada, mas no ocidente ganhou a sua fama através das tatuagens de henna e pigmentação capilar. Apesar de, inicialmente, a relação que se estabeleceu ser puramente estética, a sua utilização no ocidente está agora muitas vezes mais ligada a rituais próprios de auto-conhecimento, elevação de auto-estima e auto-imagem e celebrações de vida (mamãs com barrigas de henna e pacientes oncológicos com coroas de henna).

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Os Tipos & as Cores de Henna

A henna natural, caseira, é segura para a grande maioria das pessoas, causando apenas alergias a uma pequeníssima parte da população, tal como certas intolerâncias alimentares mais raras. Ela reage segundo o organismo da pessoa; a cor que uma oxidação atinge poderá não ser a mesma de todas as vezes que fizer henna. Isto pode acontecer especialmente em nós, mulheres, devido ao nosso ciclo hormonal, cheio de mudanças e alterações quase diárias. 

A henna poderá atingir tons laranjas, avermelhados e castanhos, mais ou menos escuros em conformidade com uma serie de fatores que poderemos controlar. 

A henna nunca será negra, branca ou multi-color, nem deverá vir pré-feita, pois decerto que terá químicos potencialmente prejudiciais ao organismo podendo causar problemas de saúde sérios. Quando escolherem um artista de henna, certifiquem-se que este usa apenas os melhores produtos naturais!  

Aguardo por todos aqueles que queiram experienciar a ancestral arte da henna!

A Sekmeth Ahmes é artista de Pintura Henna e aluna de Dança Oriental do Nível 2 no Catarina Branco Oriental Studio. Podes encontrá-la em eventos de temática árabe e feiras medievais por todo o país. Se pretendes marcar eventos ou uma sessão fotográfica com Henna contacta-a pelo seu Instagram profissional!

Catarina BrancoComment